quarta-feira, 18 de julho de 2007

La Serveuse

Esse fim-de-semana participei de um filme. O nome é Sue Lee. Tudo começou com a Fernanda, minha colega-descolada de trabalho, perguntando:
- Amanda, você usa calça 38?
- Sim...acho que sim, as vezes 40, por quê?
- Porque você será a garçonete do meu filme...amanhã eu trago a roupa e você experimenta...
- Ih...não sei não, e se não servir?
- Ah, não se preocupe, vai servir sim...

No dia seguinte, fiquei quieta, mas Fernanda disse: "olha só o que eu trouxe"...E tirou uma calça azul jeans, com um elástico na parte de baixo, moderna, feito aqueles modelos copiados do nepal, junto vinha também um avental.
Experimentei e serviu. Logo, sábado, as 10h da manhã, (sábado!) estava eu na rua Peixoto Gomide, pronta para ser uma figurante, assim como as outras cinco pessoas ao meu redor. Um corre-corre, caixas e caixas de batom, lápis, pente, grampos...roupas espalhadas e pessoas modernetes conversando, cada um querendo saber o papel do outro.
A equipe surpreendeu, esperava uma meia dúzia de gato pingado e a mãe e avó da Fernanda cuidando do figurino e da maquiagem... Mas encontrei diretor de arte, fotógrafo, seguranças, servidores de lanche, duas maquiadoras e figurinistas lindas e diversos aparatos de filmagem.
Já pronta desci, ouvia a equipe posicionar todo mundo, inclusive eu. Era simples, servir um café numa mesa. Vinte vezes seguidas, claro, para que a sintonia com a câmera fosse perfeita. Mas não exigiu tanto esforço assim.
Ser figurante é engraçado, parece brincadeira, você não fala de verdade, não precisa ler o roteiro, nem sabe o título do filme...
De qualquer forma, uma vez lá, isso parece tomar uma importância gigantesca, talvez pelo fato de que eternizarão sua imagem no vídeo. As pessoas ficam fascinadas quando você diz que trabalhará num filme...Minha mãe contou pra todo mundo, tia, avô, amigos, primos, justificava minha ausência na reunião de domingo, dizendo que estava auxiliando numa produção de cinema.
E todos já aguardavam ansiosos para comprar o ingresso, queriam o nome do diretor, a história, saber onde ia passar...Achei tudo bizarro, claro. Por que se fascinam tanto com isso? Por que ter seu rosto publicado é tão importante?
Se eu escolhesse ser atriz será que teriam a mesma reação? Os seres imagéticos são sempre mais interessantes do que seres reais, veja, para minha vó é mais fácil dizer para sua vizinha, "olha aquela ali na tela é a minha neta"...Do que me apresentar pessoalmente a outra.
Oh...semiótica ajudai a esse povo carente de heróis...Que até eu pra criar glamour tô botando título afrancesado!

6 comentários:

Tiago Frúgoli disse...

bacana seu blog! vc adicionou meu myspace. se preferir o endereço do blog, é http://rumptiago.blogspot.com

valeu por adicionar, um beijão!

Unknown disse...

Pelo menos vc não "bateu o pênalti" nas eleições... rs
Que gostoso que é ler seu blog Mandinha!! Li tudo tudo!
Beijo!

Anônimo disse...

Primeiro: fikei abobada em ver q vc lembrou certinho da primeira conversa da calça! Menina, q sucesso de memória!!! o.O Eu até lembro agora como q foi! =oD

Realmente a calça saruel deu todo um toque e eu sei que você participou do meu curta mais pela calça, falae! Achou q ia ganhar ela de brinde, né? =oP

E nunca duvide do meu poder de producao executiva! Eu jamais trabalharia com menos de 15 empregados abaixo de mim, amiga. Isso, tirando o elenco e figurantes!!!!
Porém, segurança eu nao sei quem foi não. Se pá o Bozzo atacou de segurança em algum momento que tu vistes e eu não! Não duvido de nada desse Bozzo! Mai prestativo que o monstro ele! hahaha

Mas vc captou o sentido da filmagem. É nesse momento de loucura que a gente foge da loucura da nossa própria vida. Porque essa loucura a gente já tá familiarizada, essa loucura das nossas vidas individuais já virou rotina, já não tem amis graça, já não rimos mais tanto das desgraças. Mas as desgraças que acontecem no set de filmagem (tipo a bendita britadeira) vira piada no final...
Sim, é essa a magia do cinema. Neuroses que viram piadas de making of e produções imagéticas que viram bélissimos filmes(...ou não...)

Anônimo disse...

AAH, OI Amanda. A Fernanda me passou o link pra eu ler porque t� muito bom. Hahahahahaaha!!!

T� muito bom mesmo, s� n�o me surpreendi porque j� espero coisas boas das pessoas nascidas no dia 27/10. Hahahahaha!!

Agora d� pra rir. mas na hora do desespero....� vontade de arrancar os cabelos.

Agora, vc achando que era uma Produ�o da Fernanda com a fam�lia dela � �timo. Hahahahaha!!!

Beij�o!

Anônimo disse...

Gostei do título afrancesado. Ele lembra uma ópera cômica de Pergolesi: "La Serva Padrona". Foi uma das pioneiras do gênero, antes das de Mozart e Rossini.

Criados e criadas são sempre personagens interessantes. Há um filme excelente: O Fiel Camareiro (The Dresser - 1983). Muitas vezes, sinto-me como o velho ator, que mesmo sem poder mais encara as dores de, por mais uma temporada, dar vida a King Lear, sem nem mais conseguir erquer o corpo da partner (na trama, sua filha morta...) e dizer:

"No, no, no life?
Why should a dog, a horse, a rat, have life,
And thou no breath at all? Thou'lt come no more,
Never, never, never, never, never..."

Um dia, ainda faço essa cena num teatro de verdade. Já testei meus braços com a Katuscha. Acho que consigo segurá-la umas 5 repetições da cena. Serão ensaios cansativos...

Hugs

Ru

Amanda Kamanchek Lemos disse...

Ru...Quando vi o apelido Kali achei que era realmente um anônimo olhando o blog. E um anônimo ator e poético.
Obrigada por dar mais drama e glamour ao meu simples texto!
Entendi o sentimento de quem interpreta de uma outra forma com o que você escreveu. Tornou a experiência mais profunda.

beijos e obrigada,